Fonte: Amazon
Essa é uma banda que gostei logo na primeira vez que ouvi. Na época eu ouvia o Dark Clouds in a Perfect Sky e o God's Silence, Devil's Temptation que foi o debut da banda. Eles estavam para lançar o terceiro álbum quando a vocalista, Sabine Dünser, faleceu e é sobre este terceiro disco que vou fazer a resenha e sinto que ela vai ser bem longa.
Griefshire ("condado da aflição", em uma tradução livre) é uma micro peça literária que virou música. Inteiramente escrito por Sabine, exceto a faixa bônus, esse é um álbum conceitual que trata sobre dois irmãos, a criação mística que tiveram, um triângulo amoroso entre eles e o fanatismo religioso de um deles e como isso mudou para sempre a história da família. O conceito do álbum, no original você encontra aqui, em inglês. Para a resenha vou contar a história do meu jeito.
Esse álbum, apesar de conceitual, não tem apenas um ponto de vista e as canções são a história contada por personagens diferentes, ao contrário do que acontece no Invisible Circles do After Forever. Os personagens são o irmão mais velho, o mais novo, a mãe deles (que é apenas mencionada), a mulher que ambos amam e a filha que essa mulher tem com o irmão mais velho. O mais velho além do fator primogeneidade é belo, um líder nato que tem certeza sobre sua missão de pregar sua seita, enquanto o mais novo, tem algum tipo de deficiência de mobilidade (não explicada qual é), pureza de coração, integridade e tem ses questionamentos interiores sobre a seita do irmão. Ambos foram criados pela mãe numa atmosfera mística e isso foi melhor absorvido pelo mais velho. Esse mais velho, inclusive, se casa com uma mulher dividida entre o amor dele e o do irmão e juntos eles tem uma filha.
O álbum inicia com Tales From Heaven or Hell, que é como a filha do irmão mais novo, já falecido, descobre o passado de sua familia através de um diário. Essa faixa começa apresentando o peso da banda, com suas guitarras características. A novidade aqui é o coro, nunca antes presente nos álbuns do Elis e que agregaram muito. Coro inteiramente masculino, sem aquele apelo operístico.
Die Stadt tem uma pegada Leaves' Eyes na era do Vinland Saga. Sabine era amiga de Liv Kristine e provavelmente trocaram influências. Essa faixa apresenta o condado no qual os irmãos moravam e como o local atualmente está despovoado.
Show Me the Way é a faixa mais chiclete, com um refrão que fixa. Ela narra como os ensinamentos da sábia mãe tornaram os irmãos pessoas fortes. Nunca foi das minhas faixas favoritas, acho ela bem bleh, mas fazia parte de todas as set lists da banda.
Brothers é sobre a relação dos irmãos, já sem a mãe. A introdução na guitarra e o teclado que vai despertando a música dá uma idéia de misticismo. Há a presença sutil do gutural de Tom Saxer, que eu adoro, o cara é um dos meus guturais favoritos de sempre e um riff muito cativante.
Seit Dem Anbeginn Der Zeit era uma faixa que eu sempre pulava, por achá-la muito arrastada. Também trata dos irmãos, de como o mais novo admira o mais velho e de como eles são amigos. De fato, a faixa soa longa demais, não tem refrão e pode ser um tanto difícil de gostar de cara. Depois que me "acostumei" com ela, passei a gostar. A letra é muito bem feita e para quem aprecia o alemão, dá até pra arriscar a cantá-la.
Remember The Promise traz de volta a dinamicidade do álbum. Ela já é sobre o rompimento dos irmãos, dado o fanatismo religioso do mais velho. O mais novo vai embora da província, deixando o amor que disputava com o mais velho. Um refrão bem construído, as guitarras não decepcionam e o coro retorna. Nessa altura já dá pra notar que o coro representa os seguidores da seita do irmão mais velho, clamando por salvação. A faixa termina dando um link para a próxima faixa:
Phoenix From The Ashes é a seita propriamente dita. O "we will rise from the ashes" cantado no início e o título da faixa já sugere algo que acontecerá no fim da história... não gosto muito do teclado nessa faixa, acho-o um pouco demais. No Elis, as guitarras e o teclado sobram às vezes. Em Griefshire, eu culpo o teclado, unicamente, mas nos outros álbuns anteriores eu achava as guitarras um tanto quanto caricatas, excessivas. Ainda sim é uma ótima faixa, daquelas que agradam logo na primeira "ouvida".
How Long é a primeira balada, bem bonitinha. É sobre como a mulher do irmão mais velho, que é apaixonada pelo mais novo percebe aos poucos o fanatismo do marido e teme por sua vida e a vida da filhinha que eles tiveram.
Innocent Hearts traz guitarras em equilíbrio com o refrão maravilhoso. O irmão mais velho ameaça sua esposa, impedindo-a de ir embora com a filha. O cara já está enlouquecido de vez e Sabine soa áspera no vocal, exceto no refrão, lindo, suave. O coro volta, porque a seita iludida clama para que a esposa fique.
Forgotten Love é o momento chororô triste do álbum. Que música triste! Nem a trato como balada, é uma reflexão de como a esposa se arrepende amargamente de ter deixado o seu verdadeiro amor, o irmão novo, partir. O teclado e o violino só fazem as coisas ficarem mais desoladoras. É o tipo de música que faz você chorar, seja pela letra, seja pela melodia, que é muito bonita.
The Burning faz a choradeira da faixa anterior logo no primeiro segundo. O irmão fanático pira de vez e tem a brilhante idéia de pôr fogo na cidade para "purificar" os fiéis. Como fênix, eles deveriam ressurgir. Gutural, guitarras tunadas, coro e o teclado, que agora faz sentido estar over faz este ser o ápice do álbum. O irmão mais novo voltando para o condado vê as chamas e por conta de sua deficiência só consegue resgatar a filhinha de seu irmão. Ele leva a menina embora, tornando-se seu novo pai. Griefshire se acaba em chamas juntamente com seus moradores. Provavelmente minha faixa favorita do disco.
A New Decade é o epílogo, a esperança de mudanças para melhor. Faz a tríeade das melhores faixas do álbum.
Ainda tem a faixa bônus, cover do Black Sabbath, Heaven And Hell e esse é o cover. A banda fez um trabalho impecável. As guitarras matadoras e o vocal de Sabine fizeram desse um cover excelente. O finzinho da faixa quando se acelera é o melhor. Eles não poderiam ter encerrado o álbum de forma melhor.
No single de Show Me The Way (tanta faixa melhor pra ser o single...) ainda tem as faixas Salvation (o coro maravilhoso), These Days Are Gone (lembra muito Innocent Hearts, tão boa quanto), In Einem Verlassenen Zimmer (é um poema de George Trakl, Sabine cantou outro poema dele em Ballade, do Dark Clouds in a Perfect Sky) e Show Me The Way cantada pela vocalista substituta de Sabine, Sandra Schleret. Não posso dizer de qual versão prefiro, porque como dito antes, não curto essa música. Se fosse Brother teria sido muito melhor.
Eu atribuo uma nota 9,00 a esse disco e muito dessa nota vem de todo o capricho de Sabine, tanto que ela considerava este álbum o "bebê" dela. Letras muito bem construídas, a arte do disco segue bem a atmosfera importa pelas faixas e o vocal e guitarras impecáveis, guitarras essas que eu tinha algumas criticas no CDs anteriores. O coro é uma novidade muito bem vinda, merece destaque. O teclado é o que poderia tr sido diferente em algumas faixas e a chiclete terceira faixa me desanima a dar uma nota máxima. O musical do Elis nesse disco lembra Leaves' Eyes e o UnSun, já o vocal de Sabine acho bem peculiar e falando nisso, acho as músicas do Elis difíceis de serem cantadas por conta das notas das guitarras. Os vocais não são operísticos, mas não é qualquer uma que faria um bom trabalho na banda e por isso comemorei quando Sandra Schleret assumiu o lugar de Sabine e com ela veio o último álbum da banda, o Catharsis.
Track listing
- "Tales From Heaven or Hell" - 4:17
- "Die Stadt" - 4:19
- "Show Me the Way" - 4:06
- "Brothers" - 4:23
- "Seit dem Anbeginn der Zeit" - 5:40
- "Remember the Promise" - 3:24
- "Phoenix From the Ashes" - 4:19
- "How Long" [another version on Digipack] - 4:03
- "Innocent Hearts" - 5:11
- "Forgotten Love" - 4:23
- "The Burning" - 4:43
- "A New Decade" - 3:46
- "Heaven and Hell" (Black Sabbath cover) [Bonus on Digipack] - 4:53
Fonte: Wikipedia